Tão ridículas como as cartas de amor, longe das intenções de Lisbon Revisited, são as frases que intento escrever nesta hora. Em contraste com isso, há coisas outras que foram rabiscadas em minha vida e que registrei em linhas há dias e/ou meses.
A dor, tão verdadeira quanto parte do passado, é vista agora como alguém que se despede após momentos de felicidade e pesar, intrínsecos a qualquer que seja qual meu ser.
Um sorriso sincero é retrato do que sou nesse exato segundo. Sinto-me bem, a despeito de lágrimas passadas. Tão certa quanto isso é a consciência da motivação para tal. A certeza me liberta uma vez mais. A incerteza, também.
Em adição, a ambivalência resultante do ar que respiro volta a mostrar sua existência ante meus olhos. Aceito-a como quem reconhece da vida o pesar. Cada centímetro de sofrimento corresponde individualmente a todos os centímetros que contam minhas risadas. Assim, levo comigo que o todo sentido por mim nesse instante não apagará as decepções que terei além dos dias que se seguirão em algum momento. Essa compensação sequer deve ocorrer, incontestavelmente.
Assim, verdadeira é a ideia de que busco acalentar minha alma ao escrever sobre o que me fere. Em contrapartida, rabisco nesta folha sem precisar fugir de sentimento algum. Observo meus risos comparando a luz proveniente deles a uma criança que acaba de ser presenteada em uma data peculiar qualquer. Sou tão infantil. Minha felicidade é igualmente passageira, tanto quanto o que lhe é antagônica. O senão fica por conta da certeza de que, uma vez ausentes, esses sentimentos voltarão, em ciclos, pois são tidos como estados de espírito, mutáveis como isso. Aceito a condição. Minha vida é hoje, agora, enquanto escuto as músicas de amor que irrefutavelmente foram bloqueadas pelas minhas sensações, quando inertes em estações passadas.
A noite vai se esvaindo. Não tenho vontade de ir dormir. As cartas de amor são ridículas, enfim.

Arthur Meibak

Eu me lembro nitidamente do que foi diferente, entre tudo. Torno a abrir alguns montes de livros escritos imaginariamente sob motivação das memórias minhas, como se fossem todas elas de hoje cedo. Tenho esse hábito, que, entre tantos lugares, toma-se por existente sempre que passo por alguns números da Avenida Paulista e paro, em meus dilúvios, em frente à catraca de alguma estação de metrô, pondo-me a esperar.
Teimo ao querer sentir passadas sensações uma vez mais. Que seja. Passado. Vejo-me desejando profundamente que o sábado fosse outro que não esse último. Sei de toda a falta que insisto em sentir, de toda a falta de reciprocidade. Como se tal fato fosse resultado de minhas escolhas e como se isso justificasse devaneios em que me vejo envolvido há cerca de quatro, cinco ou seis meses, ou anos.
Ouço, então: “Reaja!”. É deveras simples apropriar-se dessa expressão, em meio à segurança de um abraço conveniente (?), devo dizer. Um disparate! Revolto-me ao escutar isso, recorrendo a épocas em que minha presença fora relevante. Tenho, não obstante, consciência da importância inerente ao fato de reagir.
Vivencio cotidianamente a automação de meus atos, de minha vida. "Não se pode parar", diria outrem. Reagir é isso? Não me importo tanto com os sentimentos das pessoas. Abandono-as. Se faço isso, acredito que seja em prol de algo melhor, para mim, é óbvio. Liberação de serotonina em meu sistema nervoso central é minha razão de ser – patético.
Devo seguir, não? “Vivendo e aprendendo”? Estou farto desse cinismo. A hipocrisia que circunda minhas relações era tida como inimaginável, vidas atrás. Eis que o Sol deu uma volta completa ao redor do meu mundo. Com isso, passo a acreditar na solidão como irrefutável à vida, salvos breves momentos, inigualáveis, afinal.

Arthur Meibak

Ama, que tudo é só amar
Sonha, que a vida é só sonhar
Toma do amor tudo que é bom
Toma depressa, enquanto é bom
Que depois o amor é só chorar

Ama, que a vida é só amar
Sonha, que tudo é só sonhar
Toma do amor tudo que é bom
Toma depressa, enquanto é bom
Que depois o amor é só chorar
Sim, depois o amor é só chorar
Depois o amor é só chorar

Geraldo Vandré

Rodada Doha é nominação dada a uma série de negociações que tem por intuito discutir a liberalização do comercio mundial. Esse nome lhe foi rendido pelo fato de que Doha, no Catar, fora sede da quarta conferência ministerial da OMC – Organização Mundial do Comércio, em novembro de 2001, evento em que ficou definida a ocorrência de tais discussões.
Trata-se de mais uma rodada em uma série que se desenvolve desde a criação do GATT - Acordo Geral de Tarifas e Comércio. Situam-se à mesa de discussões alguns temas de notada relevância para o Brasil. De maneira especial, agricultura, setor de serviços, acesso a mercados, sobretudo estadunidense e da união européia, com de redução da combatida, por parte de nações emergentes, tarifa para produtos industriais. Intenta-se ainda maior aprofundamento de regras sobre antidumping, subsídios, acordos regionais e propriedade intelectual, além de novos temas como investimentos, concorrência, transparência em compras governamentais, facilitação de comércio e comércio eletrônico, além de meio ambiente.
O principal problema dessa rodada é a preocupação em excesso que cada nação possui a favor de seus interesses próprios. Em adição, o maior propósito dessas negociações é desenvolvimento dos países pobres e o combate à fome.
Assim, nações emergentes como Brasil e Índia intentam a diminuição de impostos aos produtos agrícolas estrangeiros por parte da União Européia e dos Estados Unidos. As nações desenvolvidas, em contrapartida, querem maior abertura para seus produtos industrializados.
Por fim, todos almejam, pois, mercados mais abertos para seus produtos, sem, contudo, abrir seus próprios mercados, uma vez que temem por uma depreciação de suas economias devido a esse fato.

Arthur Meibak

A teoria da escolha racional toma por base o pressuposto intuitivo de que os atores assumem suas decisões racionalmente, ou seja, por meio de caminhos lógicos que os levem ao melhor resultado possível em uma interação com outros personagens. Assim, ficam evidenciadas as preferências desses jogadores, de forma que suas escolhas contornam caminhos outros que não os norteados pelo empirismo.
Nessa conjuntura, existe a dita relação completa de preferência. Isso ocorre quando, havendo duas escolhas possíveis para determinado ator, uma é tão boa quanto à outra. Assim, torna-se indiferente a escolha entre elas.
Há, além disso, a chamada relação transitiva de preferência. Desse modo, pressupondo-se a existência de três escolhas possíveis, A, B ou C, sendo A mais vantajosa que B e esta mais vantajosa que C, analogamente, A deve ser mais conveniente que C.
Segue então a conclusão de que uma escolha tomada é, ao menos, tão favorável quanto uma descartada. Existe sempre, pois, uma opção a ser feita. Esse fato, por si só, é capaz de trazer consigo a idéia de que a irracionalidade em uma escolha é posta de lado, incondicionalmente.
Por fim, a notação usada para caracterizar essas relações é dada por preferências ordinais, que enunciam o fato de as primazias escolhidas por determinado jogador serem colocadas em ordem de acordo com os possíveis resultados.

Arthur Meibak

Brevemente as nações esclarecidas colocarão em julgamento aqueles que têm até aqui governado os seus destinos. Os reis fugirão para os desertos, para a companhia dos animais selvagens que a eles se assemelham; e a Natureza recuperará os seus direitos.

Saint Just; Sur La Constituition de La France, Discours pronounce à la Convention, 24 de abril de 1793




Revolução Francesa: Contextualização.

O pano de fundo para a chamada Era das Revoluções é dado pelo mundo na década de 1780.
Primeiramente, deve ser clara a idéia de que os contornos geográficos nesse tempo impunham limites mais severos ao conhecimento humano, se comparados à atualidade.
Até mesmo os homens mais instruídos conheciam apenas uma fração do mundo habitado. Assim, o mapa do mundo caracterizava-se por espaços brancos cruzados pelas trilhas demarcadas por negociantes ou exploradores.
Nesse período, as diversas regiões distinguiam-se pelo aspecto rural. Mesmo em áreas com forte tradição urbana, a porcentagem agrícola era alta; Cerca de 80% em localizações tais quais Venécia, Calábria e Lucânia. Mesmo na Inglaterra, a população urbana ultrapassou a rural pela primeira vez apenas em meados do século XIX.
Nessa época, a urbanidade, no entanto, diferenciava das demais as duas cidades européias que podiam ser chamadas de grandes, segundo os nossos padrões – Londres, que possuía cerca de um milhão de habitantes, e Paris, com cerca de meio milhão. O termo “urbano” inclui também o sem número de pequenas cidades de província, onde se encontrava a maior parte dos habitantes urbanos; Lugares em que as pessoas podiam, em poucos minutos, percorrer a pé distâncias entre o centro civil e o campo.
Cabe ressaltar o fato de que a cidade provinciana pertencia ainda essencialmente à sociedade e à economia do campo. Suas classes média e profissional eram constituídas por negociantes de trigo e gado, advogados e tabeliões, tecelões e, por fim, o nobre e a Igreja.
Estruturalmente, burocracias de inúmeros pequenos principados, que eram pouco mais que grandes propriedades, administravam os interesses das altezas com os impostos cobrados sobre um campesinato obediente.
Posto isso, o problema agrário era fundamental na época aqui tratada. Os fisiocratas franceses tomaram como verdade o fato de que a terra e o aluguel dela eram a única fonte líquida de renda. O ponto principal, com isso, era a relação entre quem a cultivava e quem a possuía.
De tal modo, o camponês típico não tinha liberdade. Dedicava boa parte das semanas trabalhando na terra do senhor ou o equivalente em outras obrigações. O característico soberano de terras era um nobre proprietário e cultivador ou um explorador de enormes fazendas.
Essa estrutura exploratória trouxe consigo um colapso econômico devido à sua obsolescência, cada vez mais afirmada, nesse período. Com tal decadência, houve um constante aumento da exploração do chamado terceiro estado por parte da classe dominante – Nobres e Clérigos.
Para um camponês, qualquer pessoa que possuísse uma propriedade era tida como um “cavalheiro” e membro da classe dominante. Com isso, o status de nobre, capaz de conceber privilégios tanto políticos como sociais, era inconcebível sem uma posse. Essa ligação fortificava-se com o passar do tempo.
Eram, de maneira geral, pouco amplos os horizontes provenientes da realidade agrícola. O mundo do comércio e das manufaturas, em contrapartida, ao lado das atividades intelectuais que o acompanhava, era dinâmico e as classes que se beneficiavam dele, ativas e otimistas.
Com isso, ocorreu no terceiro estado o surgimento de um novo grupo, formado por aqueles que, independentes do que se conseguia ganhar unicamente por meio da posse de terras e de seu aluguel, alavancaram um enriquecimento antes impensável. São, entre outros, mercadores, que se tornaram campeões econômicos nessa época. Comparavam-se aos que possuíam cargos rendosos na coroa. Emergia, assim, a burguesia, em tempos de escassez.
Assim sendo, independentemente do status, as atividades comerciais e manufatureiras cresciam de forma contundente. No século XVIII, o Estado europeu mais bem-sucedido era a Grã-Bretanha, que devia o seu poderio plenamente ao progresso econômico. Por volta de 1780, qualquer governo que tivesse pretensão de estabelecer uma política racional deveria, intrinsecamente, pensar no crescimento econômico e no desenvolvimento industrial, especialmente.
Nesse contexto, a Enciclopédia de Diderot e d’Alembert era um sumário do progresso científico-tecnológico. A convicção no avanço do conhecimento humano e na racionalidade, além do “iluminismo”, serviu de impulso para o progresso da produção e do comércio.
Foram ícones dessa temática desenvolvimentista personalidades como Erasmus Darwin, James Watt e Benjamin Franklin, entre outros. Circundavam meios nos quais a ideologia iluminista se propagava.
Esse sistema de idéias confrontava o tradicionalismo ignorante da Idade Média, passando pela superstição da Igreja e pela irracionalidade que dividia homens em uma hierarquia de patentes de acordo com o nascimento ou algum outro critério similar. Liberdade, igualdade e fraternidade se tornaram os slogans da Revolução Francesa.
Os interesses estabelecidos do feudalismo e da Igreja eram tidos como obstáculos remanescentes ao progresso. A proposição de que a sociedade livre seria uma sociedade capitalista foi formulada com participação decisiva da classe média emergente, embora o “iluminismo” não fora ideologia estrita desse grupo.
Em adição, na França reinava uma monarquia absoluta. Monarcas hereditários reinavam sob o argumento irracional de que isso ocorria devido à vontade de Deus. Fato esse perpetuado com plena contribuição da Igreja.
Enfim, é esboçado, dessa forma, o cenário vislumbrado pelo palco da chamada Revolução Francesa.

Arthur Meibak

Estive nesse lugar algumas vezes antes. Nesta mesma aresta não aparada por quem quer que se veja envolvido em um momento de hesitação. A morte incumbe medo em cada pedaço da semiótica a esse tanto de letras atrelada. De certa forma, morremos sem perceber por sete ou oito vezes ao dia. Pois, se damo-nos conta disso, tememos invariavelmente.
Não sabemos o que significa acabar, apesar do fato de que acabamos de forma indubitável. Quando me dou conta disso, sofro como quem sequer conseguiria, em um momento hipotético, deixar quem quer que seja para trás.
Sou isso, assim. Encontro um grande número de definições acerca de como agem ou são as pessoas. Invejo-as pelo simples fato de serem como são, enquanto me esqueço de que, analogamente, sinto necessidade de trabalhar por horas e horas a fim de conseguir algumas moedas com gravuras desconhecidas nelas rabiscadas.
Sinto indigência de dormir por quatro horas à noite, uma vez que há coisas de fato importantes para serem resolvidas em um cubo de dois metros de largura por dois de comprimento, com uma tela de computador ligada, mostrando os rumos que tomo ao gastar metade da minha vida sofrendo por causas outras que não as minhas, enquanto ser que respira e possui aspirações grandiosas como qualquer folha caída no chão.
Conheço dor. Sinto ausência, ao passo que me chutam a fim de buscarem felicidade ou algo que valha isso. Justamente humano. Temos desejos. Temos direitos, de fato, não reconhecidos por documento algum. Somos compassivos. Agimos incontestavelmente como tal.
Liberto-me - ou intento isso - de todos os disparates inerentes à forma que tomamos para viver.

Arthur Meibak

Delfim Netto é professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde seguiu, além disso, carreira acadêmica. Ocupou diversos ministérios durante os governos militares. Ficou, assim, conhecido por ser um dos principais idealizadores do chamado “milagre brasileiro”, exercitado entre 1969 e 1973. Nesse período, o Produto Nacional Bruto crescia cerca de 10% ao ano. Em adição, foi, após o período de redemocratização do Brasil, eleito deputado federal por cinco vezes consecutivas. Escreve atualmente artigos publicados pelo semanário “Carta Capital”.
Nos textos publicados ao longo desse semestre, Delfim trata de temas gerais da economia, sobretudo, câmbio e inflação, traçando paralelos com eventos notórios no cenário político em geral. Há menção a fatos ditos históricos. Crise de 1929, em paralelo com a que estourou em setembro do ano passado, por exemplo. Foi possível também observar abordagem da questão de infra-estrutura no cenário nacional, com citação da questão de investimentos para extração de petróleo na camada pré-sal.
O autor, em seu artigo “Limites desnecessários”, discute a renovação dos métodos de obtenção de energia, frisando um avanço acelerado nos Estados Unidos e na Europa quanto ao emprego de tecnologias a fim de substituirem gradativamente o uso de combustíveis fósseis por energias provenientes de fontes renováveis. Cita exemplo de países como Alemanha, Noruega e Dinamarca, que desenvolveram metodologia avançada com essa finalidade e, de forma crescente, utilizam energia eólica e solar para abastecer tanto regiões urbanas quanto de produção agrícola.
Do mesmo modo, ressalta-se a política energética do governo Obama, que envolve grandes investimentos tecnológicos para a produção de etanol a partir de florestas, transformação de carvão em combustível líquido sem a emissão de CO2, além da produção de combustíveis alternativos obtidos por meio de itens diversos da agricultura estadunidense, como milho e sorgo.
Em adição, ao longo do semestre, o economista escreveu sobre tal questão no cenário nacional. Cita a avançada tecnologia aqui desenvolvida para a produção de etanol e para o aproveitamento da biomassa de diversos produtos da agricultura brasileira. Delfim ressalta, em contrapartida, a importância desses fatores para que se possa organizar a exploração das reservas de petróleo do pré-sal, a fim de viabilizar a autonomia energética tupiniquim pelo maior período possível.
Trata-se de um dos mais renomados economistas brasileiros, apesar de toda a controvérsia causada pelos anos em que ocupou cargos administrativos no período militar. Ainda hoje é influente no Planalto, uma vez que aconselha o presidente Lula em diversos campos da economia referentes ao curso da administração nacional.

Arthur Meibak

Os two-level games dizem respeito a um modelo político de resolução de conflitos internacionais entre democracias liberais. Modelo esse derivado da teoria dos jogos e inicialmente aplicado por Putnam.
O arquétipo consiste em negociações simultâneas, tanto no âmbito internacional, como nacionalmente. Nesse caso, por exemplo, um executivo absorve a preocupação dos atores da sociedade e constrói coalizões com eles.
Cabe ainda ressaltar os Win-Sets, que ocorrem quando as preocupações dos atores em ambos os níveis se sobrepõem. Condição que ilustra a probabilidade da obtenção de um acordo.
A noção de pluralismo, sob os preceitos da escola inglesa, é dada por meio de três conceitos fundamentais. Primeiramente, há a idéia de Sociedade Internacional, caracterizada pela anarquia entre os personagens, de forma que existem normas de coexistência entre os Estados, que são condicionados por elas.
Além disso, há o conceito de Sociedade Mundial, que transcende o Estado. Ressalta-se também a idéia de que tal sociedade é composta por indivíduos capazes de criar identidades além do nacional, ou seja, criação de interesses e valores em comum. Por fim, ocorre a idéia de Sistema Estatal, que corrobora com a interpretação do cenário mundial de forma que este é constituído por inúmeros atores nacionais.

Arthur Meibak

Eis uma escada de concreto que leva a um ponto de ônibus. Escolho um dos longos degraus e me acomodo.
Lembro-me de, há cinco ou seis anos, estar sentado, se não nesse exato canto, em outro, próximo ao local onde me vejo nesse instante.
Era, provavelmente, maio, à ocasião desse (a)caso. Eu estava de certa forma cansado devido à rotina de estudos que seguia naquele tempo. Era fim de tarde e, como hoje, o Sol voava reluzente rumo ao horizonte. Meus sonhos pareciam tão distantes que eu tinha a impressão de que nunca os alcançaria.
Tenho agora, nesse mesmo lugar, sonhos outros. Em comum com aquela época, a vontade de ganhar o mundo. Estou igualmente sentado, cansado, enquanto carros e ônibus passam.
No momento em que alguém desce essa escada, penso que, a exemplo de outrora, meus anseios apontam para o que desconheço.
Devo, assim, levantar-me. Coloco a mochila nas costas e desço essa via, para, daqui a cinco ou seis anos, voltar a sentar-me em uma dessas placas de cimento, a fim de pensar nos planos que nunca terão se tornado fato, a não ser em meus pensamentos.
Além disso, uma vez mais, dar-me-ei conta da imensidão de direções que eu poderia ter tomado, mas que, sem razão de ser, nunca chegaram perto de começar pelo próximo degrau desse caminho à minha frente.
O Circular está a passar. Apresso-me, pois.

Arthur Meibak

Afastamento. Tenho pensado nessa característica aparentemente intrínseca à minha pessoa.
Escuto, ao fundo, palavras sobre certo enfoque teórico. O construtivismo à esquerda e a idéia de distanciamento no centro.
Trata-se, imagino, de um mecanismo de defesa. Deve ser isso.
Confesso aqui que, a exemplo do que acontecia em meados de tempos outros, tenho passado boa parte das horas pensando em alguém. Assim, afasto-me. Reação à dor que tem me acometido ultimamente. Sinto vontade de desaparecer para o que já não existe, uma vez mais.
Posto isso, teimo em, por vezes, imaginar que ela está na frente da FEA, parada, casualmente vestida, esperando minha saída, a fim de me presentear com um beijo e um sorriso.
Eu me afasto, pois. Vou-me embora. Volto de Pasárgada e torno a escutar coisas sobre teóricos construtivistas tais quais Wendt e Onuf. Sinto certo pesar. Respiro um ar carregado com sentimentos distintos acerca do que houve em minha vida até o momento em que entrei nessa sala e comecei a rabiscar essas palavras.
Fui, em instantes diversos, a pessoa mais feliz desse mundo. Sinto-me, em contrapartida, romanticamente desamparado. Vejo-me acometido por um desassossego, contudo, desprovido de caráter trágico, por mais que eu, aparentemente, trace tais cores nessas linhas.
Quero paz. Afasto-me, então.
São três horas da tarde, enfim.

Arthur Meibak

Sinto-me como Álvaro de Campos, pretensamente, escrevendo os últimos versos de a Tabacaria. Esboçando, entre tudo, o desconserto. Tenho, paradoxalmente, esperança. Sinto que tudo deve ficar bem em algum momento. Isso já ocorreu uma ou duas vezes.
As sensações do mundo passam por mim. Sou um universo pelo qual momentos de minha vida fluem. Assim que me dou conta disso, acordo para as coisas que acontecem ao meu redor. Tenho sono.
O tempo passa. Muda minha sorte em um dia, rumo ao que eu nunca pensei ter razão de ser.
Sonhei um dia ser arquiteto. Traçar retas e curvas. Atraio-me por estas, tal qual Niemeyer. Fiz esboços de prédios. Desenhei árvores, como se pudesse recriá-las. Terminei por cursar engenharia. Queria provar para mim mesmo que eu era capaz de conseguir. Desisti após algum tempo.
Nesse exato instante, espero pela segunda parte de uma aula que versa sobre Teorias Avançadas das Relações Internacionais. Finjo que sou quem eu gostaria de ser, enquanto escrevo essas palavras na ausência de ouvidos e coração para darem por entendido o que eu tenho a dizer.
Por fim, do que vivi, não guardo arrependimentos. Sinto-me feliz por ser.

Arthur Meibak

Hear the sound of music drifting in the aisles
Elevator prozac Stretching on for miles
The music of the future Will not entertain
It's only meant to repress And neutralise your brain

Soul gets squeezed out
Edges get blunt
Demographic
Gives what you want

One of the wonders of the world is going down
It's going down I know
It's one of the blunders of the world that no-one cares
No-one cares enough


Now the sound of music Comes in silver pills
Engineered to suit you
Building cheaper thrills
The music of rebellion makes you wanna rage
But it's made by millionaires
Who are nearly twice your age

Soul gets squeezed out
Edges get blunt
Demographic
Gives what you want

One of the wonders of the world is going down
It's going down I know
It's one of the blunders of the world that no-one cares
No-one cares enough


(Porcupine Tree)

Todos esses que desejam ser salvos...
Procurando luz, o imaginário é fraco.

Indiferente ao estado alheio e indiferente,
É confortável instante e dura eternamente.

Indiferença!


Relações humanas...
Correlações.


Presenciamos calados o momento presente.
Individualmente, não vivemos pra sempre.

Nos pensamentos que vão em vão - passado e futuro -
O quanto penso que gasto é todo o tempo do mundo.

Indiferença!


Relações humanas...
Correlações.


Arthur Meibak


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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