Carpe Diem é expressão que nunca precisou fazer tanto sentido para mim, até agora. Acostumei-me a, por vezes, ouvir alguns clichês em latim como esse, desde vidas condizentes com a Arcádea Lusitana, sem levar em conta o fato de que buscar o amanhã é costume antigo de minha parte, assim como as tentativas frustradas de reviver sensações outras que não as deste momento. Essa realidade, conflitante com o tal dizer latino, tem trazido, se não pesar, arrependimentos ilegítimos, além de me forçar a querer os traços esboçados pela mesma pena que retratou a utopia de Manoel Bandeira.
O sacrilégio de comparar alguns devaneios com o que expôs o mestre de Vinicius não é maior do que viver qualquer coisa que não esteja acontecendo agora. Contudo, a constante viagem ao redor do mundo de outrora redunda em algo que ocorre neste segundo, assim como estas letras, cientes da metalinguagem por elas incumbida, como se tivessem consciência acerca do que acontece em mim. Não sei.
Passado e futuro. Esse talvez seja questionamento exposto por dado Buda ou Krishnamurti. Talvez, à parte a pretensão. Quem são eles, afinal? Quem sou eu? Pergunto mentalmente a alguém que nem sei. Quanta metafísica gasta com pensamentos opostos à ausência deles, conduzida por Caeiro, enfim. Quantos personagens. Será que eu pude depreender um centímetro do que fora exposto por tais? Tantas figuras, qual o personagem que monto sempre que acordo, ou mesmo antes disso. Uma farsa! Mais uma.
Esse segredo já não é segredo. Igualmente vagos são os pensamentos que vão, rumo ao que deve, porventura, ser, tomados pela base de dias cujas crônicas não foram ainda escritas; cuja voz passiva não fora desmentida.
São tantas as idas e as vindas, pormenorizadas por repetições grosseiras no meio do caos, que chegam a dizer nada. Confusão.
A caminhada é longa. Tem sido, marcando a estrada delimitada pelos meus passos, ao longo das vidas com as quais me deparo, sempre que iludo a mim mesmo com as imagens de ontem, fato que se antepõe paradoxalmente ao tal Carpe Diem.

Arthur Meibak

Sobra falta em mim. Desde a mais distante lembrança que tenho, recordo-me desse vazio. É como se, independentemente do que eu fizesse, essa sensação continuasse a existir.
Vivo tentando suprir essa ausência, sem saber o que, de fato, falta. Tenho passado minha existência anotando meus planos e meus objetivos, sem, contudo, dar-me conta de que minha felicidade está sempre marcada para amanhã, ou depois. Conto mais de vinte anos sem que eu me visse satisfeito, a desejar o próximo passo rumo à plenitude, que nunca chega.
Minha vida é sempre o dia seguinte, a hora que ainda não chegou. São os anos que tenho gastado, esperando por qualquer que seja a mão capaz de me salvar do abismo que eu desconheço, apesar de saber o número de palmos que contam seu tamanho.
Eu não vivo em paz, sozinho. Não sei dizer que me vejo afetado por coisas pequenas aos olhos do cotidiano. Vivo perdendo minhas horas com inutilidades, sob a óptica da minha existência, que, por sinal, vive encontrando embaraço à fé que tenho quanto às cousas da vida. A certeza que levo comigo quando acordo não costuma ser a mesma que me guia quando vou dormir. Nau sem direção, guiada por mapas e bússola que levam a caminhos antagônicos, é o que sou. Já não tenho os mesmos anseios que tinha duas horas atrás. O dia é incerto, ou não.
Sempre vai faltar uma parte, mesmo quando eu acreditar ter descoberto a solução de tal desigualdade. Parece-me. Não tem bula meu remédio*.

*O Teatro Mágico
Arthur Meibak


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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