O tempo flui como um rio, que segue rumo ao mar. Pseudolirismos à parte.
Tempo meu, vai atrás de alguma coisa que nem sei. Algum propósito, talvez. O propósito do rio talvez seja ser mar. O do tempo, ir embora.
Adeus, meu amor. O tempo leva meus dias para longe. É chegada enfim a hora em que os caminhos divergem entre si. Nossos rumos, que se cruzaram em algum momento, agora seguem o curso de rios que desaguarão em mares distintos.
Adeus, provavelmente para sempre. O que sobra são instantes inigualáveis, que insistem em serem levados por águas incertas, a caminho de um lugar onde só se pode chegar através de embarcações movidas por lembranças.
Tempo, quem sabe quando nos encontraremos novamente? Em quais vidas? Vá! Vá embora. É chegado o instante de voar, uma vez mais, rumo ao que desconheço, como deve ser.
Sei da importância que há em dividir uma tarde, que seja, com quem um dia passará a ser personagem de dias passados, que jamais se repetirão. Tal importância reside no fato de que isso é viver, é ter do que sentir falta, é querer novamente os motivos pelos quais risos tão sinceros vêm ao mundo, sem remorso de serem nada senão risos sinceros.
Adeus, passado. É preciso seguir em frente. É preciso fluir como um rio. Como o tempo, com ele. É preciso que eu me despeça, a fim de alcançar a eternidade, uma vez mais, apesar do nó que se faz em minha garganta toda vez que desejo dar meia volta, movido pelo saudosismo de momentos que chego a desejar com todo o meu querer. Não há solução. Não há retorno.
Assim, o que posso fazer é me despedir, a contragosto, confesso. Despeço-me a favor do que vem, do que virá. Não posso negar todo o sofrimento que essa obrigação causa em mim. Não sei como suceder frente a isso. A conclusão seria deixar meus sentimentos se cansarem do que a eles não mais faz correspondência, do que os feriu.
Goodbye my love, The tide waits for me.

Arthur Meibak

Eu me entreguei com toda a minha sinceridade. Entreguei meu corpo, minha alma e o coração que levo comigo, exatamente como fazem os personagens idealizados das histórias que não contam o que de fato é cotidiano. Esqueci, contudo, de me apanhar de volta. Perdi-me antes que eu pudesse fazer isso.
O perder-me, desta vez, não é aquele estado que alcançam as pessoas que se vêem envolvidas com o oposto do que propõe a solidão. Não é o perder-se por amor. Chega a ser um passo além disso. Trata-se, pois, de um encontro com a desilusão, com o desamparo, o desprotejo. Sinônimos para tal não são escassos, assim como o que faz essas palavras terem razão de ser em mim. Tem sido assim, ao menos.
Nessas últimas estações, não houve ainda um dia sequer sem que eu pensasse, nem que por alguns momentos, em tudo o que afastava essa ausência, da qual não consigo me livrar, apesar das tentativas. Meu coração ainda dispara quando ouço Condicional*. Fato é que não deveria ser algo tão árduo de ser superado. Tenho meu próprio tempo, afinal. Tempo esse que não pude contemplar ainda com mudança de rumos, desde a última variação de minhas certezas, causada por ação de agentes externos à minha vontade, devo ressaltar.
O conforto que sempre busquei e que, por vezes, encontrei nunca me confortou, apesar da aparente contradição, não mais que ilusória, incumbida na presente afirmação. De tal modo, vejo-me desejoso por existir da melhor forma possível, dia após dia. Essa realidade representa, por si só, mudança quanto ao que delimita o pretérito mais que perfeito vinculado às minhas memórias.
Não sinto arrependimentos por ter oferecido minha existência ao presente, que, invariavelmente, tornou-se passado. Fiz o melhor que pude. Essa é a convicção que levo em meu peito, sem despeito do coração que não pude ainda resgatar.

*Los Hermanos

Arthur Meibak


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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