Tempo, tire tudo de mim! O meu querer, minhas ilusões, das promissoras às desanimadoras. Minhas esperanças e os sonhos que eu ainda tenho comigo, as maldições, os sentimentos, tão distintos entre si, aquele sorriso – ah, aquele sorriso –, aquele brilho... Tudo!
Se assim acontecer, novas ilusões, vontades e esperanças nascerão em mim, além de sonhos e sorrisos outros. A diferença terá algum lugar de ser, bem como os caminhos que eu escolho três ou quatro vezes por dia. Minha voz ativa possivelmente encontraria razões distintas para buscar novas glórias, para merecê-las, ao invés de esperar que as minhas rotinas simplesmente fossem contempladas com todas as honras do mundo.
Há, contudo, o que não pode ser tirado. Minha história, que não está escrita na areia de alguma praia que eu nem sei, não pode ser apagada com facilidade – não há onda que a leve consigo –, bem como as idas e as vindas da sua vida, sem final, cuja parte ínfima fora traçada nas mesmas linhas em que eu leio o inteiro da minha. Mais ainda, o sentido de tudo em mim não pode ser arrebatado, não pode ser deixado de lado, assim como os meus juízos.
Aquelas promessas. As juras de amor eterno. Eu não preciso mais delas. Eu não preciso da falsa certeza de que tudo vá durar para sempre, não mais. Les dernières vies nunca estiveram tão distantes de mim. Por isso, tire tudo, à exceção das coisas boas que eu fiz para quem eu amo, para quem eu amei, apesar de eu saber que o esquecimento é praticamente irrefutável.
Por fim, leve tudo o que tiver de ser levado; os momentos, as sensações, o presente e os amores. As certezas. Deixe então o que fica; as lembranças, a saudade, o passado e o desprotejo. As dúvidas. Siga seu curso, como há de ser. Eu tentarei te alcançar, uma vez mais.
Eu pretendo ainda desvendar, enfim, a sua luz, tempo.

Arthur Meibak

Deixarei tudo como está. Porta e janelas abertas, a despeito de eu tê-las fechado em momento inoportuno. Igualmente, deixarei o que eu fiz e o que eu não fiz terem razão de existir na página virada, lida e relida, do livro da minha vida. Eu sei que ainda tornarei a revirar os contos que falam da minha história. Eu voltarei. Voltarei meus olhos para as cortinas entreabertas. Lá esteve você, pronta para voar, enquanto o Sol das quatro horas começava a cair no horizonte e a TV contava as horas de um filme qualquer.
De repente tudo ficou como está agora. Meu sorriso, sem graça, querendo descanso, após a perda do caminhar, dos rumos e dos passos, que voltaram ao descompasso. Coração batendo no peito, feito batuque, e a entrega do viver, do meu querer. Tanto faz. Tanto fez.
Por esses dias, então, eu estive pensando que, se hoje mesmo eu deixasse de viver, alguns instantes eu jamais deixaria para trás, como aquela vez em que eu fui até o paraíso e voltei. Sim, eu fui ao paraíso, e que orgulho eu tenho de ter vivido aqueles minutos! Foi quando, pela primeira vez, eu senti que a minha existência fora de fato relevante. Eu me arriscaria a dizer que aquele foi o melhor momento dos vinte e tantos anos que contam a minha vida.
Se hoje eu morrer, longe de qualquer idealização romântica, levarei a consciência de que eu já vivi a única coisa que eu nunca poderia deixar de viver. Eu amei. De corpo, alma e coração, eu amei. Eu vivi o amor. Eu vivi o que parecia ser impossível viver. Essa é a verdade da minha vida. É a única certeza que eu tenho, frente a tantas dúvidas - são tantas as dúvidas!
Entre tudo o que já passou pelos meus olhos, essa é a verdade que me liberta. É a minha revolução, em meio a ideologias diversas e controversas. Aqueles planos que eu fazia perderam toda a razão de ser, mas eu não esperaria um segundo sequer para idealizá-los novamente, se eu ainda pudesse.

Arthur Meibak

O tempo de fato mudou as voltas dadas pelo meu coração. Fez com que as sensações que formam minha essência experimentassem novos sentidos. Os rumos que vejo à minha frente mudam com uma freqüência relevante, bem como a curva que existe logo no início desses caminhos, com o propósito de ir além de tudo o que eu consigo enxergar. Não posso ver além disso. O que faço então é projetar o fim do dia, imaginando as mais belas alegrias capazes de passar por mim.
Essa ilusão distorce, contudo, a visão que eu faço acerca do mundo, de tudo. Altera a maneira como desenho meus anseios a fim de alcançar a felicidade pela qual eu vivo. Eu volto, assim, a correr para onde nós queríamos ir, para onde nós planejávamos ir. É fato que hoje eu faço isso por mim mesmo, como deve ser. Sem essa companhia, a presença do meu querer então se faz distante daquela que eu tinha antes da última curva pela qual eu passei, a caminho de hoje. Eu não podia ver, bem como eu não posso ver os rumos últimos dessa estrada.
A certeza de tal fato impõe que essas projeções perfeitas e ideais que eu vivo a fazer de nada servem, não adiantam. Meus amores, meus amores. Idealizados à margem de tudo o que deve ser certo, sem nenhuma relativização. Não, meus amores não são relativos, nem eternos, apesar de eu sempre querer guardar os melhores momentos da minha vida no bolso da minha calça, para que eu possa retirá-los e senti-los sempre que o Sol da tarde cai no horizonte.
Esse deve ser o segredo de toda a beleza e intensidade desses instantes, únicos, incomparáveis. Eles vão embora tão depressa como quando chegam, e deixam saudade. Sim, deixam saudade. Pensar em onde eu queria ir e em onde eu de fato estou traz falta, e sobra falta. Sobra espaço no abraço como não era para ser.
De todos aqueles sonhos que nós tivemos, fica a idéia de que a inspiração sempre vê um final, de que as coisas da vida não são invariáveis.

(Arthur Meibak)


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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