Não faz sentido não mudar esse amor que eu sinto. Não faz sentido não olhar para o que acontece em mim, lutando a favor do que eu desejo, das idealizações que eu ainda faço, apesar de sofrer com os desencontros que elas me proporcionam. Não faz sentido eu não lutar por todos os meus planos e sonhos, mesmo sabendo que eles quase nunca se realizaram; quase nunca se realizarão. O que se realiza é minha vida, que acontece enquanto eu sou guiado pelos planos que eu vivo a fazer, mas que nunca se concretizam de acordo com meus objetivos iniciais. Eu sempre me perco pelo caminho, tomando rumos distintos daqueles que eu traço em um primeiro momento.
Não faz sentido não querer parar o tempo, enquanto tudo o que eu amo escorre pelas horas dos meus dias, fazendo com que eu lamente profundamente por não conseguir guardar tudo o que eu vivi em uma caixa de sapatos. Se isso fosse possível, seria fácil matar a saudade que eu sinto sempre que penso em tudo o que eu já não posso ter.
Apesar disso, faz todo o sentido do mundo pensar que eu sou capaz de conseguir tudo o que eu quiser. É essa certeza que move meus ideais, que costumam não virar realidade. Mesmo assim, eu teimo em acreditar na minha capacidade de buscar o improvável, de lutar pelo que parece não ser alcançável. Esse deve ser o problema, meus intentos não são óbvios. Não me importo. Aceito a condição, apesar do pesar que sou obrigado a carregar toda vez que me deparo com o insucesso.
Em decorrência desse fato, é muito intensa a desventura do meu viver. Eu tenho tanto medo de me perder e não te encontrar, de me soltar e não ver seus olhos. Tenho medo de acordar cedo e saber que você não mais existe em mim. Por isso, não faz o menor sentido eu não guardar esse amor no lugar mais escondido do meu peito.
Quem você é faz também parte de mim, não há como ser diferente. Não tenho medo de me importar. O amor me liberta a favor do universo que sou eu. Essa realidade eu percebi quando você apareceu, sem pressa, tomando para si a metade que era ainda minha. Você trouxe festa em minhas tardes, mostrando para mim o teu sorrir.
É com essa proximidade que eu devo aprender a guiar efetivamente os meus passos, ao invés de ser levado pelas ondas do cotidiano, sem alcançar a efetividade de meus objetivos. Não há, assim, como não lutar por esse amor, mesmo sabendo da fugacidade das cousas da vida, em que minha vontade se insere, bem como da dificuldade inerente ao processo pelo qual eu devo passar a fim de alcançar a obra de todo o meu querer.

(Arthur Meibak)

Às vezes eu tenho a impressão de que eu preciso de mais tempo para fazer tudo de forma correta, como se, com alguns momentos a mais, eu fosse consertar o que não ocorreu de acordo com as minhas vontades. Esses instantes não existirão, assim como a perfeição planificada pela minha vontade, teoricamente imperfeita.
Aprendo, então, a matar tudo aquilo que eu já fui e tudo o que eu devo ser, morrendo, conseqüentemente, com o que não é agora, com o que já é passado. Paradoxalmente, essa é a maior das incoerências que percorrem o meu ser, porque eu sou nada senão decorrência de toda a vivência que a minha existência proporciona. Sou resultado de todos os amores que eu já julguei serem eternos, assim como todas as desventuras.
Como eu devo deixar o passado ser nada senão passado, se eu sou fruto de vivências que supostamente são “nada senão passado”? Devo negar tudo o que eu sou a favor de viver o instante presente? Há como viver esse exato instante sem a influência de todas as mágoas, resultado de ontem? Sem a influência de todos os bons momentos, únicos, inigualáveis, é possível viver as 19h36min que contam meu relógio agora? É muito tempo para ser presente! Presente?
Decerto tenho que meu paraíso começa aqui, em meio às confusões que eu teimo em criar. Meu paraíso resulta da gratidão que sinto pelas venturas e desventuras que pude vivenciar, resultantes do fato de que eu existo, simples assim. Essa consciência vai de encontro ao citado paradoxo, pois eu não sei como simplesmente deixar tudo de lado, a favor de me tornar uma página em branco para o que há de ser.
Ventos frios de tristeza me afagam em momentos inoportunos, em que eu estou longe do presente, imaginado o que eu deveria fazer para alcançar minhas idealizações. Não obstante, ondas de felicidade passam por mim enquanto minha vida acontece, em meio aos planos que vivo a traçar. Sou isso, essa ambivalência constituída por sentimentos antagônicos, que se misturam a fim de formar ao mesmo tempo minha alegria e meu cansaço.
Meu avião continua, finalmente, a ir embora, voando rumo a céus por ora desconhecidos. Dessa forma, forjo as asas que eu deveria ter para sobrepujar todos os desamparos pelos quais eu já passei. Mais do que isso, fortaleço-me para conhecer novos desamparos, com a eterna certeza de que eles são tão passageiros quanto tudo o mais.

Arthur Meibak


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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