Às vezes eu tenho a impressão de que eu preciso de mais tempo para fazer tudo de forma correta, como se, com alguns momentos a mais, eu fosse consertar o que não ocorreu de acordo com as minhas vontades. Esses instantes não existirão, assim como a perfeição planificada pela minha vontade, teoricamente imperfeita.
Aprendo, então, a matar tudo aquilo que eu já fui e tudo o que eu devo ser, morrendo, conseqüentemente, com o que não é agora, com o que já é passado. Paradoxalmente, essa é a maior das incoerências que percorrem o meu ser, porque eu sou nada senão decorrência de toda a vivência que a minha existência proporciona. Sou resultado de todos os amores que eu já julguei serem eternos, assim como todas as desventuras.
Como eu devo deixar o passado ser nada senão passado, se eu sou fruto de vivências que supostamente são “nada senão passado”? Devo negar tudo o que eu sou a favor de viver o instante presente? Há como viver esse exato instante sem a influência de todas as mágoas, resultado de ontem? Sem a influência de todos os bons momentos, únicos, inigualáveis, é possível viver as 19h36min que contam meu relógio agora? É muito tempo para ser presente! Presente?
Decerto tenho que meu paraíso começa aqui, em meio às confusões que eu teimo em criar. Meu paraíso resulta da gratidão que sinto pelas venturas e desventuras que pude vivenciar, resultantes do fato de que eu existo, simples assim. Essa consciência vai de encontro ao citado paradoxo, pois eu não sei como simplesmente deixar tudo de lado, a favor de me tornar uma página em branco para o que há de ser.
Ventos frios de tristeza me afagam em momentos inoportunos, em que eu estou longe do presente, imaginado o que eu deveria fazer para alcançar minhas idealizações. Não obstante, ondas de felicidade passam por mim enquanto minha vida acontece, em meio aos planos que vivo a traçar. Sou isso, essa ambivalência constituída por sentimentos antagônicos, que se misturam a fim de formar ao mesmo tempo minha alegria e meu cansaço.
Meu avião continua, finalmente, a ir embora, voando rumo a céus por ora desconhecidos. Dessa forma, forjo as asas que eu deveria ter para sobrepujar todos os desamparos pelos quais eu já passei. Mais do que isso, fortaleço-me para conhecer novos desamparos, com a eterna certeza de que eles são tão passageiros quanto tudo o mais.

Arthur Meibak

5 comentários:

Eu também (re)comecei com essa história de voar por céus desconhecidos a princípio. Mas foi bem aí que eu aprendi a observar melhor o caminho por onde eu andava, e a desfrutar dele na medida certa.
Sempre um fim, sempre um começo. A ordem dos fatores aqui altera o produto, sim.

Como diria Guimarães.. "O real não está na chegada nem na partida, mas na travessia."

Conselho... viva o que quer viver, sem ser o que nao quer ser.

Nao se preocupe em descobrir quem voce e hoje... quando vc chegar a alguma conclusao ja sera uma pessoa diferente de quando começou a busca... vc e quem vc quer ser.. entao apenas seja.

valeu pelos comentários anônimos, Bibs uaehueah

ei cabeção!!os comentarios não são meus!!!!
huahuahuahua
mas eu concordo!


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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