O personagem que veste minhas maneiras não é o mesmo que exercia esse papel há cinco, seis ou sete anos. Ele é também mais do que uma evolução reiniciada quando saí de casa pela primeira vez a fim de ir jogar futebol na rua, com cinco, seis ou sete anos.
Minhas intenções, quando o menino que eu era corria descalço sobre o asfalto quente, passavam impreterivelmente pelo desejo de aceitação frente a quem quer que se visse nas relações impostas por aqueles dias. Apesar disso, essa consciência era certamente inexistente em mim.
Em conseqüência das primeiras vivências, vieram os primeiros desamparos, as primeiras decepções. Um muro foi construído por mim ao meu redor. Uma máscara eu coloquei sobre minha face. Já não era a primeira, afinal.
Assim, todos foram sendo tidos como estranhos ao mundo que eu projetava sob a influência dos desenhos animados e dos contos de fadas que eu conhecia. Eu passava desta maneira a ocultar cada vez mais aspectos de minha personalidade, escondendo-a do mundo externo o tanto quanto fosse possível fazê-lo.
Essa herança é carregada pela aparência enganadora que personifica o presente, com as influências das vidas que não vivem o ar de agora. Há então a tal evolução do personagem, como um velho que há muito foi criança.
Contudo, não existe só essa característica na essência do fingidor. Aspectos novos são agregados cotidianamente. Objetivos são modificados de acordo com as mudanças de caminhos que os ventos costumam trazer de estações em estações, de maneira a se fazerem necessárias adequações às letras que escrevem o dia-a-dia de qualquer individuo.
Não sou o mesmo de ontem. Consequentemente, os personagens que me vestem também não são.

Arthur Meibak


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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