Brevemente as nações esclarecidas colocarão em julgamento aqueles que têm até aqui governado os seus destinos. Os reis fugirão para os desertos, para a companhia dos animais selvagens que a eles se assemelham; e a Natureza recuperará os seus direitos.

Saint Just; Sur La Constituition de La France, Discours pronounce à la Convention, 24 de abril de 1793




Revolução Francesa: Contextualização.

O pano de fundo para a chamada Era das Revoluções é dado pelo mundo na década de 1780.
Primeiramente, deve ser clara a idéia de que os contornos geográficos nesse tempo impunham limites mais severos ao conhecimento humano, se comparados à atualidade.
Até mesmo os homens mais instruídos conheciam apenas uma fração do mundo habitado. Assim, o mapa do mundo caracterizava-se por espaços brancos cruzados pelas trilhas demarcadas por negociantes ou exploradores.
Nesse período, as diversas regiões distinguiam-se pelo aspecto rural. Mesmo em áreas com forte tradição urbana, a porcentagem agrícola era alta; Cerca de 80% em localizações tais quais Venécia, Calábria e Lucânia. Mesmo na Inglaterra, a população urbana ultrapassou a rural pela primeira vez apenas em meados do século XIX.
Nessa época, a urbanidade, no entanto, diferenciava das demais as duas cidades européias que podiam ser chamadas de grandes, segundo os nossos padrões – Londres, que possuía cerca de um milhão de habitantes, e Paris, com cerca de meio milhão. O termo “urbano” inclui também o sem número de pequenas cidades de província, onde se encontrava a maior parte dos habitantes urbanos; Lugares em que as pessoas podiam, em poucos minutos, percorrer a pé distâncias entre o centro civil e o campo.
Cabe ressaltar o fato de que a cidade provinciana pertencia ainda essencialmente à sociedade e à economia do campo. Suas classes média e profissional eram constituídas por negociantes de trigo e gado, advogados e tabeliões, tecelões e, por fim, o nobre e a Igreja.
Estruturalmente, burocracias de inúmeros pequenos principados, que eram pouco mais que grandes propriedades, administravam os interesses das altezas com os impostos cobrados sobre um campesinato obediente.
Posto isso, o problema agrário era fundamental na época aqui tratada. Os fisiocratas franceses tomaram como verdade o fato de que a terra e o aluguel dela eram a única fonte líquida de renda. O ponto principal, com isso, era a relação entre quem a cultivava e quem a possuía.
De tal modo, o camponês típico não tinha liberdade. Dedicava boa parte das semanas trabalhando na terra do senhor ou o equivalente em outras obrigações. O característico soberano de terras era um nobre proprietário e cultivador ou um explorador de enormes fazendas.
Essa estrutura exploratória trouxe consigo um colapso econômico devido à sua obsolescência, cada vez mais afirmada, nesse período. Com tal decadência, houve um constante aumento da exploração do chamado terceiro estado por parte da classe dominante – Nobres e Clérigos.
Para um camponês, qualquer pessoa que possuísse uma propriedade era tida como um “cavalheiro” e membro da classe dominante. Com isso, o status de nobre, capaz de conceber privilégios tanto políticos como sociais, era inconcebível sem uma posse. Essa ligação fortificava-se com o passar do tempo.
Eram, de maneira geral, pouco amplos os horizontes provenientes da realidade agrícola. O mundo do comércio e das manufaturas, em contrapartida, ao lado das atividades intelectuais que o acompanhava, era dinâmico e as classes que se beneficiavam dele, ativas e otimistas.
Com isso, ocorreu no terceiro estado o surgimento de um novo grupo, formado por aqueles que, independentes do que se conseguia ganhar unicamente por meio da posse de terras e de seu aluguel, alavancaram um enriquecimento antes impensável. São, entre outros, mercadores, que se tornaram campeões econômicos nessa época. Comparavam-se aos que possuíam cargos rendosos na coroa. Emergia, assim, a burguesia, em tempos de escassez.
Assim sendo, independentemente do status, as atividades comerciais e manufatureiras cresciam de forma contundente. No século XVIII, o Estado europeu mais bem-sucedido era a Grã-Bretanha, que devia o seu poderio plenamente ao progresso econômico. Por volta de 1780, qualquer governo que tivesse pretensão de estabelecer uma política racional deveria, intrinsecamente, pensar no crescimento econômico e no desenvolvimento industrial, especialmente.
Nesse contexto, a Enciclopédia de Diderot e d’Alembert era um sumário do progresso científico-tecnológico. A convicção no avanço do conhecimento humano e na racionalidade, além do “iluminismo”, serviu de impulso para o progresso da produção e do comércio.
Foram ícones dessa temática desenvolvimentista personalidades como Erasmus Darwin, James Watt e Benjamin Franklin, entre outros. Circundavam meios nos quais a ideologia iluminista se propagava.
Esse sistema de idéias confrontava o tradicionalismo ignorante da Idade Média, passando pela superstição da Igreja e pela irracionalidade que dividia homens em uma hierarquia de patentes de acordo com o nascimento ou algum outro critério similar. Liberdade, igualdade e fraternidade se tornaram os slogans da Revolução Francesa.
Os interesses estabelecidos do feudalismo e da Igreja eram tidos como obstáculos remanescentes ao progresso. A proposição de que a sociedade livre seria uma sociedade capitalista foi formulada com participação decisiva da classe média emergente, embora o “iluminismo” não fora ideologia estrita desse grupo.
Em adição, na França reinava uma monarquia absoluta. Monarcas hereditários reinavam sob o argumento irracional de que isso ocorria devido à vontade de Deus. Fato esse perpetuado com plena contribuição da Igreja.
Enfim, é esboçado, dessa forma, o cenário vislumbrado pelo palco da chamada Revolução Francesa.

Arthur Meibak

0 comentários:


Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

Minha lista de blogs

Seguidores