O recorte que eu faço do seu rosto, retrato quase apagado, traz consigo aquela imagem do seu corpo, capaz que foi de incendiar o meu peito. Juntamente com essa imagem, seu cheiro e sons formam um conjunto de sensações que envolvem minha saudade em uma mistura de sordidez e pureza, capaz de remontar os momentos mais humanos pelos quais eu já vivi.
Por vezes eu criei imagens praticamente idealizadas acerca dos amores que eu imaginei serem eternos, projetando uma perfeição que jamais poderia ser alcançada, a não ser em todos os mundos que não são reais. As vezes de minhas paixões eram então passiveis de todos os surrealismos possíveis, desejados.
Houve ainda horas caracterizadas por uma impureza bela e fria, trazida às minhas lembranças através de um corpo quente e dilatado de mulher. Momentos de gozo vastamente distantes de qualquer idealização sagrada, ridícula, inútil. Próximos do prazer proporcionado pela troca, pelos pudores, que são assim deixados de lado.
Sobrepondo-se a isso sei que existe você, que existiu. Sua essência transcende essa divisão burlesca imposta pela idéia de infinito, frontalmente discordante do ideal de instante. Foi em seus olhos que eu enxerguei, pela primeira vez, a sordidez e a pureza, misturadas, como uma só coisa. Seus gritos roucos opostos aos seus abraços mais calorosos. Seus olhos, pedindo o peso do meu calor. Uma afronta à inocência, que, aos soluços, você me entregou.
Eu me dei conta então de que o infinito e um momento são o mesmo. São o fim e o começo, conceituados por mim toda vez que eu me perco em meio aos desamparos que me acometem. Fato recorrente quando eu me esqueço dos meus propósitos, a fim de reviver tudo o que não está incumbido no tempo desta linha. No tempo destas paixões e deste amor, que se fez completo ao ver um final, longe de ser o fim último, suposto.
Ah, se eu pudesse parar o tempo... Eu não posso, não devo, não quero. Não posso querer.


(Arthur Meibak)

1 comentários:

Textos interessantes. Acabei de conhecer o blog e pude notar que houve publicações iniciais tratadas com humor. Como opinião, sugiro que aposte mais em divertir. Aproveite a "consciência libertária" para criar e recriar com humor. Risadas sempre são agradáveis aos olhos, sobretudo nesse contexto sociológico. Boa sorte.

Mauro Cheister - acesse
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Arthur Meibak

Sobre este blog

Sei da eterna necessidade de questionar. Aqui isso se dá, obviamente, sob a ótica dos meus olhos. O resultado são linhas que versam a respeito do que vivencio. É, pois, a crônica dos meus dias, que possui inegavelmente um viés, fruto do que sinto e do que vejo.

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