Começos, encerramentos e meados. Passagem. Qual é o movimento da vida, se
não esse? A alegria dos inícios e a angústia dos finais se misturam em mim,
somam-se, resultando em certa sensação de desventura. Ainda, o que se pretende
tristeza precede o abraço entre estes sentimentos antagônicos; remete à
distorção que se dá entre os objetivos que eu busco, sempre quase utópicos, e a
realidade, distante de todos os sonhos que me envolvem.
Deixando de lado qualquer tentativa “metafísica” de explicação do
presente, eu me arrisco a dizer que a distância entre ideia e prática é raison d’être de quase toda a frustração
que eu sinto. Há algo de inquietação em perceber que eu não me tornei o
arquiteto que um dia eu sonhei ser. Não sou, também, engenheiro, nem físico,
nem astrônomo. Não sou nada que, em algum momento, eu me imaginei sendo.
Envolvido nesse infortúnio de não ser, eu sou (?).
“O que é ser?”, pergunto eu à minha consciência, que eu não conheço muito
bem, diga-se. Não consigo elaborar uma definição categórica, simplesmente. Tem que ver
com observar – é o primeiro ponto que me vem à cabeça. Tem que ver com
interpretar. Tem que ver com tomar partido. A consequência direta de ser,
feitos esses juízos simplórios, é o indignar-se com a realidade que está posta;
é, também, aceitar o irrefutável! Voz ativa frente à ordem vigente é
fundamental, tanto quanto a noção de que a vida é implacável ao impor sua
transitoriedade sobre nós.
Em meio a tanto: haver – (im)pessoal.
Ser, portanto, implica estar entre a dureza imposta pelas demandas
sociais do mundo e os ideais que nascem logo em cima do travesseiro. O
resultado é uma implacável consternação, decorrente de querer o que não se tem,
e ter o que não se quer – eu quero o mundo, mas o que eu tenho é uma janela.
Arthur Meibak
0 comentários:
Postar um comentário