Não faz sentido evitar o fim,
Certo como o tempo que se esvai em mim.
Eu me desfaço,
Desamarro os laços que me prendem
Ao que não existe mais.
Eu vou embora.
Voei tão alto com meus sonhos e verdades
E agora o meu amor são só saudades.
Eu vou embora.
A vida mostra a sua cara assim
E o peso do passado me define, enfim.
Eu me despeço,
Despedaço o retrato de uma vida inteira que ficou para trás.
Arthur Meibak
Quero correr o mundo.
Quero vidas que mudem minha vida para sempre.
Quero correr para ver o Sol morrer e nascer.
Quero cantar os encontros e desencontros de ser.
Quero o instante em que você chegar...
E partir!
Quero mudar o mundo,
Mas não consigo sequer mudar a mim mesmo.
Hoje eu quero ficar por meia hora e fugir.
Quero ir embora, voltar, olhar para trás e sorrir
A alegria do início e a dor do final.
Partir!
Nunca voltarei,
Nunca voltarei porque nunca se volta.*
Arthur Meibak
*Álvaro de Campos
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos - aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.
Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.
Confere tudo ponto
por ponto - afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia.
Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por que?
Você faz parte de tudo.
Aprende, não perde nada
das discussões, do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.
Você não será ouvinte
diante da discussão,
não será cogumelo
de sombras e bastidores,
não será cenário
para nossa ação.
Bertold Brecht
Todos os discípulos de Cristo adormeceram.
Eles não haviam entendido o sentido da Última Ceia.
E, quando os guardas chegaram, eles fugiram... e Pedro o negou.
Cristo já conhecia seus discípulos há 3 anos.
Eles conviviam dia e noite, mas os discípulos nunca entenderam o que Cristo pretendia.
Eles o abandonaram, todos eles.
Cristo ficou totalmente sozinho.
Isso deve ter sido um grande sofrimento.
Perceber que ninguém o compreende.
Ser abandonado quando precisa contar com alguém.
lsso deve ser extremamente doloroso.
Mas o pior ainda estava por vir.
Quando Cristo foi pregado na cruz, em meio ao sofrimento,
ele gritou: "Deus, meu Deus!
Por que me abandonastes?"
Ele gritou tão alto quanto podia.
Ele achou que seu Pai o havia abandonado.
Achou que tudo o que havia pregado era mentira.
Nos momentos que antecederam sua morte, Cristo teve dúvidas.
Aquele deve ter sido o seu maior sofrimento.
Deus ficou em silêncio.
Cena de Winter Light - Ingmar Bergman
Ah! Ser indiferente!
É do alto do poder da sua indiferença
Que os chefes dos chefes dominam o mundo.
Ser alheio até a si mesmo!
É do alto do sentir desse alheamento
Que os mestres dos santos dominam o mundo.
Ser esquecido de que se existe!
É do alto do pensar desse esquecer
Que os deuses dominam o mundo.
(Não ouvi o que dizias…
Ouvi só a música e nem essa ouvi…
Tocavas e falavas ao mesmo tempo…
Com quem?
Com alguém em quem tudo acabava no dormir do mundo…)
Álvado de Campos - 12/01/1935